sexta-feira, 31 de julho de 2009
A mulher que só amou uma vez
Ela nem era tão bonita assim, não era por isso que era tão desejeda. Talvez alguns achassem seus lábios bonitos, ou suas pernas grossas, mas nenhum desses chegavam longe com ela. Não, não era seu corpo, nem sua alma, era a sua vontade de não amar. Era o seu sublime desejo, e sua ardente necessidade, de não se deixar dominar ou envolver com qualquer um que fosse — essa era a sua mágica. Suas unhas vermelhas não arranhavam de brincadeira, ela não mordia os lábios do outro levemente, não era um atrativo para quem a beijava, era realmente uma flagelação intencional. Ela não gostava de homens e, não se engane, também não gostava de mulheres. Ela se deitava com os seres humanos vis, injustos e sem valor, e para ela era impossível gostar daquilo. Sua mágica era o desprezo, o desdém, e um real, não o de quem quer comprar. Não se fazia de difícil, era, e era mais, era impossível. Um cubo mágico de articulações muito duras, um quebra-cabeça faltando peças, um violão desafinado, um teclado agudo de mais. Um ser humano com defeito que nem por isso era pior (ou melhor) que os outros. Mas era diferente, certamente. Não precisava do amor, não o queria, e recebia milhões e milhões de amores e flores e cartões. Jogava-os todos no lixo, junto com seus remetentes. E eles pulavam, tentando se agarrar à borda da lata, clamando por ajuda, por salvação, e ela ria, até, às vezes. A maior de todas as contradições já vistas foi ela, Cristiane, amando. Um homem que ela não teve coragem de jogar fora, porque era irresistivelmente parecido com ela mesma, irresistivelmente odioso, era um homem irresistivelmente fraco, louco e narcisista como ela mesmo era. E eles pularam juntos, valsaram juntos de madrugada, ao som dos bandolins, beijaram juntos, sentiram prazer juntos, brigaram juntos, se separam juntos, gritaram juntos, viveram em países diferentes juntos, desprezaram outros juntos e morreram juntos. Em túmulos a 11.623km de distância um do outro. A alma de Cristiane vagou um pouco sobre a superfície do mundo, procurando rostos conhecidos e não encontrou nenhum. Então furou a terra àspera, seca e fétida, e descansou pela eternidade no inferno.
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