quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Francisco José do Nascimento

Tava tudo deserto. Os dedos se arrastando pela parede pichada, a boca assobiando um rock qualquer de uma época qualquer em que ele nem era nascido. Os passos imitando o compasso. Caio não tinha fones de ouvido — mesmo que ele fosse o típico adolescente que se esperava que andasse usando fones de ouvido.


Caio não tinha fones de ouvido, nem levava celular no bolso. Conhecia a área, e reconhecia os assaltantes passando de bicicleta, procurando um desavisado. Mas Caio não seria um desses.


Assobio assobio assobio


Ele admirava as construções. O teto alto, em forma de semicírculo. A entrada estreita de cada um, e o comprimento entrando quarteirão a dentro. Ele podia ver, sentir o cheiro do suor dos trabalhadores antigos, que deviam estar todos presos em suas cadeiras de balanço. Se soubessem eles que os depósitos virariam boates e bares...


Caio via os homens andando de um lado a outro, com camisetas cheias de fuligem e sujeira, e o suor escorrendo pela testa. A música de rock tocando, só que agora era mais que um assobio. Era como se banda tivesse sido assunta ao céu, e as nuvens fossem caixas de som gigantes.


As grandes sacas eram pegas na batida do baixo, e levadas nos solos de guitarra.


Ele ergueu a cabeça de seu devaneio e sorriu ao perceber que havia chegado. As muitas mesas de plástico, com as cadeiras em cima. A fachada dos restaurantes com aquele estilo antigo-mas-não-sei-precisar-de-que-ano.


Patativa do Assaré estendia sua mão enrugada para alguém invisível.

1 comentários:

morgana feijão disse...

E a gente é um dos que ainda zoam com o pobre Patativa e sua mãozinha. Agora eu estou encarando ele como um cara muito solitário. O Dragão do Mar nunca mais será o mesmo.

 

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