A gravata meio desamarrada, metade dos botões abertos. O cabelo muito bagunçado de passar inúmeras vezes a mão por lá. Os lençois bagunçados pelo movimento frustrado das pernas, o travesseiro um pouco escuro pela umidade das lágrimas. Ele estava triste, desesperado, sem forças. Arrastava a unha pela roupa-de-cama que sobrara. Trincava os dentes.
— Cansei, Lal. Simplesmente cansei.
A mulher estava sentada ao seu lado, com uma expressão indefinível. Ela parecia com medo de toda aquela reação. Com medo da tristeza do homem.
— O que... — ele mordeu o lábio para não embargar as palavras. — O que eu faço, Lal?
Ela arrastou a mão, que estava parada ao lado da cabeça dele, vagarosamente em direção a seu cabelo. Sua mão estava meio trêmula.
— Viajo? Soco aqueles caras do escritório? Me mato?
Lal agarrou o cabelo com força. Pousou a outra mão livre no peito dele.
— Não pense nisso. Você precisa... Lutar. Ser forte. A vida continua. Essas coisas — fazia movimentos circulares no peito, com a mão um pouco pesada de mais. — Respire.
Mas ela também precisava respirar, vendo por aquela voz.
O homem levantou-se, escorando-se no espaldar da cama. Olhou para ela com os olhos castanhos-escuro brilhantemente tristes, pegando as mão dela com as suas.
— Não preciso de ar. Eu só preciso saber uma coisa, Lal.
Ele fechou os olhos tristemente. Ele estava com medo. Ele estava com medo da resposta verdadeira dela.
— Lal — começou, ainda de olhos fechados, com medo da expressão que ela faria —, você me ama?
Ele abriu os olhos ao mesmo tempo que ela arregalou os seus.
— Calma, calma. Não... Não precisa ser que nem Romeu e Julieta, ou como o branco e o negro, o sol e a lua... Puff, eu nem acredito nisso, sabe? — Deu uma risada triste. — Não precisa também... Ei, Lal.
Ele tocou o queixo dela com a ponta de dois dedos, e levantou o seu olhar. — Não, não precisa ser igual ao que você sentia pelo Collonello. Você sabe o que eu penso sobre isso. Eu não vou ter ciúme de um (me desculpe, mas) morto.
Ela pôs uma mão sobre a boca dele.
— Cala boca. Está bom de falar besteira. Eu te amo, cara. Eu te amo. É só isso que você quer?
Ele desvencilhou-se da mão que lhe tapava a boca e puxou-a para um abraço. Podia parecer que ela nunca o odiara tanto quanto agora, mas ele conhecia Lal Mirch muito bem para achar ruim o jeito que ela falara.
— Satisfeito, agora? — Ela apertava forte as costas do homem. Este nunca mais se sentira tão confortável quanto naquele momento. Os cabelos leves e repicados da mulher se mexiam por sobre sua orelha e seu pescoço, e aquele cheiro único invadia suas narinas.
— Entende o que eu quis dizer Lal? A vida tá difícil. E eu sei que para você também. Mas se a gente tiver um ao outro quando chega em casa, eu acho que fica mais fácil de suportar.
— Você é um mole, isso sim.
— Eu estou sentindo suas lágrimas, Lal.
— Cala a boca.
Agarraram-se firmemente. Ficaram parados ali, cada um pensando em coisas muito diferentes.
Eram âncoras um do outro.
(Fic de presente para mim mesmo. Nem gostei muito, mas obrigado mesmo assim.
Não tão conscientemente, tem muito a ver como meu post "Eu devia estar...". Principalmente com o final dele. Você são minhas âcoras, meus amigos. I love you ♥)